CRÍTICA – Eu, Tonya
31 jan

CRÍTICA – Eu, Tonya

Filmes

Julia Giarola

Filme: Eu, Tonya
Título original: I, Tonya
Data de lançamento: 15 de fevereiro de 2018
Duração: 2h 01min
Direção: Craig Gillespie
Gênero: Drama, Biografia
Nacionalidade: EUA

Sinopse: Cinebiografia da ex-patinadora no gelo Tonya Harding. Durante a década de 1990, ela consegiu superar sua infância pobre e emergir como campeã do Campeonato de Patinação no gelo do Reino Unido e segunda colocada no campeonato mundial. Porém, ela ficou realmente conhecida quando seu marido, Jeff Gilloly, e dois ladrões tentaram incapacitar uma de suas concorrentes quebrando a perna dela durante as olímpiadas de 1994.

Protagonistas interessantes movimentam a história adiante, completando a receita perfeita para um bom filme. Quando se trata da realidade, as situações geralmente são as mesmas: personagens fortes fazem as coisas acontecerem, seja indiretamente ou não. No caso de Tonya Harding, o contexto é um pouco mais complicado, já que aos olhos da mídia ela era a antagonista do mundo dos esportes, mas agora é exposta com outras perspectivas. Entre figuras fortes e controladoras, Eu, Tonya explora a contextualidade dos acontecimentos que rodearam a polêmica da atleta nos anos 90, extraindo junto ao humor uma mensagem positiva e atemporal.

Para aqueles que não estão familiarizados com a polêmica envolvendo Tonya Harding na década de 90, não se preocupe, o filme explica tudo muito bem. Na verdade, utilizando técnicas não-convencionais em histórias biográficas, Eu, Tonya, se beneficia da liberdade de ser original, usando a quebra da quarta parede, múltiplas perspectivas e humor negro para explicar os acontecimentos envolvendo a atleta. Sendo direcionado por depoimentos, o roteiro explora bem as contradições dos relatos reais, as utilizando para construir uma trama interessante que complementa sua mensagem.

Trazendo a mídia em foco, o filme coloca um holofote sobre a realidade por trás da patinação como um esporte e da sociedade, focando em status e classe. Sem santificar Tonya HardingEu, Tonya mostra a importância do contexto de cada história, principalmente quando a mídia está envolvida. As conclusões precipitadas e falta de simpatização com o caráter da atleta são bem explorados durante o longa que ressalta a protagonista como uma pessoa completa e complicada. Assim, como ao mesmo tempo Harding traça seu próprio caminho, a trama também demonstra o histórico de abuso sofrido pela patinadora nas mãos da mãe e do então marido deixando explícito as motivações contextualizadas. Ao explorar essa situação no ponto de vista da vítima, Eu, Tonya passou a ser um filme muito mais complexo que muitos anteciparam.

Utilizando aspectos técnicos para traduzir a história, direção, roteiro e edição se harmonizam com o ambiente satírico criado para o filme. A câmera desliza dentro das cenas imitando a movimentação da patinação. Os cortes bruscos e  dinâmicos destacam a comédia absurda da trama baseada em fatos reais. Isso tudo, ainda acrescido ao ótimo uso de músicas populares formam uma mistura hilária de metalinguagem e drama funcional. A história não desperdiça sua oportunidade de explorar aspectos mais pesados dos acontecimentos, construindo bem o emocional para a audiência também sentir as consequências que Harding teve que enfrentar após o incidente.

Margot Robbie mostra seu talento além do glamour, despindo bem as emoções da atleta nas situações que teve que enfrentar. Allison Janney carrega o humor negro como ninguém, balanceando bem imitação e interpretação, apresentando uma caricatura bem desenvolvida da mãe de Tonya HardingSebastian Stan mais uma vez desaparece tomando decisões ousadas e marcantes para seu personagem. Com tudo correndo bem no ramo da atuações, os relacionamentos entre esses três personagens não poderia ter sido melhor, já que este representa parte essencial do tema principal do filme.

Apesar de um leve CGI durante as cenas de patinação que infelizmente é bem notável, Eu, Tonya é o pacote completo. O fato do filme chamar a responsabilidade de informar não pesou nem um pouco no aspecto da diversão, já que ele é entretenimento do começo ao fim. Com batidas emocionais e comédia vinda de personagens absurdos, o longa com certeza é um dos destaques de 2017 e vale a pena conferir.

Nossa nota é:

Assista ao trailer:

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