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Resenha

RESENHA: As cores do Benfica

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+ são dois traços que indica muito dentro da comunidade, ela está em uma festa e como sempre, de canto, apenas analisando como alguma letra consegue ser mais destacada do que outras, enquanto todos deveriam lutar pelo mesmo destaque, respeito e aceitação. Inclusive, G estava dominando aquele espaço, sempre rodeado de pessoas que o aclamam, mas será que são aclamações reais?

Apesar de ser uma festa para toda a comunidade, existe uma letra que não está ali presente e se divertindo junto com todos, porém o que mais incomoda + é o fato de ninguém estar indagando a ausência da outra letra.

Existem motivos para essa letra não presenciar a festa, porém + tenta ser maior do que esse motivo e procura não semear invisibilidade dentro de uma comunidade que por si só passou anos invisível para a sociedade.

“De um lado, G se divertia. Rodeado de amigos, rodeado de pessoas que se importavam com ele, ou fingiam. Pessoas que o acham divertido, gentil; garotas que dariam tudo para tê-lo como melhor amigo e caras que só o pegariam caso não fosse tão passivo. Alguns beijavam na boca. Promíscuo, o ambiente gritava. O preconceito gritava, estava perto, mas as pessoas não tinham tomado a frente.”

As Cores do Benfica, escrito por Maria Eduarda Duarte, é o sétimo e último conto presente no projeto Todas as Letras do Arco-Íris organizado por Maria Freitas e publicado somente em edição digital para Editora Resistência.

Diferentemente de todos as outras histórias presentes nessa antologia, o título não procura explorar somente uma sexualidade, muito pelo contrário, ele incluí muitas outras dentro do enredo e propõem uma reflexão para a própria comunidade LGBTQIA+, onde ela é capaz colaborar para a falta de inclusão de uma letra da sigla, sendo que muitas das vezes isso ocorre inconscientemente por falta de comunicação com aquele que é diferente de si.

A narrativa é englobada de autocríticas, no caso para os LGBTQIA+, onde é explorado assuntos sérios e reais como a falta aceitação dos gays, sendo eles aceitos caso sigam à risca alguns padrões impostos pela sociedade. Por outro lado, também existem críticas para siglas que são sexualizadas e entre diversas outras, incluindo sexualidade e identidade de gênero, uma ideia que Maria Eduarda Duarte trabalha gradativamente através de diálogos, sendo extremamente importante e necessário dentro do livro, tornando a leitura ainda mais cativante e empolgante.

Como mencionado, todas as críticas são em relação à própria comunidade, alguns incluindo héteros, mas a forma respeitosa que a escritora procura explorar essa questão é muito interessante, justamente pelo fato do leitor conseguir encontrar verdades em suas palavras, automaticamente sabendo relacionar que a ficção proposta na narrativa beira a realidade, caso não seja, também explorando os privilégios sociais que alguns ganham de berço.

“Mesmo dentro dos oprimidos, havia quem nascesse com privilégio. Negro, branco; rico, pobre; trans, cis. Pequenas características que ninguém escolhia, mas todos sofriam as consequências.”

As Cores do Benfica é muito interessante por diversos motivos, mas a forma como a autora foi inteligente em não construir personagens com nomes, mas sim com letras da sigla — uma forma de incluir todos —, é uma ideia totalmente diferente que deu muito certo. Portanto, quando é mencionado o G ou a L, ela narra a história, levanta uma crítica e faz o leitor sentir que aquilo não é somente sobre um ou outro, mas sim a grande maioria deles.

Maria Eduarda Duarte tem uma escrita muito engajada, desde o início da narrativa ela sustenta uma história muito interessante e consegue intensificar a empolgação do leitor com as críticas e diálogos presentes no enredo.

A Editora Resistência continuou realizando um trabalho incrível com todos os títulos do projeto Todas as Letras do Arco-Íris, concluindo de mão cheia nessa obra, mesmo sendo em edição digital ela se destaca, principalmente devido a capa bem desenvolvida e chamativa, expressando uma das ideias da história.

As Cores do Benfica, escrito por Maria Eduarda Duarte, é uma obra totalmente necessária para dentro e fora da comunidade LGBTQIA, sendo um título incrivelmente excelente para a conclusão desse projeto, onde a autora consegue propor uma reavaliação do que é considerado inclusão, visibilidade e representatividade dentro da bandeira, sendo que alguns colaboram para a falta de presença de outros.


Título: As cores do Benfica
Autora: Maria Eduarda Duarte
Editora: Resistência
Gênero: Ficção
Número de páginas: 35
Sinopse: Na capital cearense, o Benfica brilha as sete cores. Naquela noite de 17 de maio, as pessoas param e uma certa sigla se diverte para celebrar o que há de mais importante: o amor. Próprio ou não, aquele sentimento reluz o arco-íris que há em cada um.

Porém, uma parte, um símbolo, ainda teme a invisibilidade: +, tão distinto e plural quanto seu significado. Estará ela sozinha? Passado durante uma festa de comemoração, “As cores do Benfica” é um conto sobre o quê, porquê e para quê (r)existimos.

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