RESENHA: Quem Tem Medo do Feminismo Negro?
20 ago

RESENHA: Quem Tem Medo do Feminismo Negro?

Resenhas

Victor Tadeu

Título: Quem Tem Medo do Feminismo Negro?
Autora: Djamila Ribeiro
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Ciências Sociais
Número de páginas: 152

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Sinopse: Quem tem medo do feminismo negro? reúne um longo ensaio autobiográfico inédito e uma seleção de artigos publicados por Djamila Ribeiro no blog da revista CartaCapital, entre 2014 e 2017. No texto de abertura, a filósofa e militante recupera memórias de seus anos de infância e adolescência para discutir o que chama de “silenciamento”, processo de apagamento da personalidade por que passou e que é um dos muitos resultados perniciosos da discriminação. Foi apenas no final da adolescência, ao trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, que Djamila entrou em contato com autoras que a fizeram ter orgulho de suas raízes e não mais querer se manter invisível. Desde então, o diálogo com autoras como Chimamanda Ngozi Adichie, bell hooks, Sueli Carneiro, Alice Walker, Toni Morrison e Conceição Evaristo é uma constante.
Muitos textos reagem a situações do cotidiano — o aumento da intolerância às religiões de matriz africana; os ataques a celebridades como Maju ou Serena Williams – a partir das quais Djamila destrincha conceitos como empoderamento feminino ou interseccionalidade. Ela também aborda temas como os limites da mobilização nas redes sociais, as políticas de cotas raciais e as origens do feminismo negro nos Estados Unidos e no Brasil, além de discutir a obra de autoras de referência para o feminismo, como Simone de Beauvoir.

Feminismo é um movimento social, político, filosófico e ideológico que visa buscar a equidade entre gêneros dentro de uma sociedade primeiramente comandada por homens e visivelmente machista. Esse movimento já existe há décadas, porém está recendo uma visibilidade e entendimento maior na atualidade, onde muitas mulheres — assim como homens — estão tendo acesso aos benefícios e visões do feminismo.

Apesar desse movimento visar unir as pessoas — principalmente as mulheres — para lutar contra um estado dominado por homens, as mulheres negras lutam por direitos e motivos um pouco diferente das mulheres brancas, pois têm que lidar também com o racismo; infelizmente isso é o resultado de um passado histórico muito consequente na sociedade intolerante e, muitas das vezes, desqualificada em que vivemos hoje.

Quem Tem Medo do Feminismo Negro? é um livro nacional da filósofa e militante Djamila Ribeiro que foi publicado recentemente pela Companhia das Letras, na qual, contém 152 páginas com textos escritos e publicados pela autora durante alguns anos como colunista na CartaCapital.  Recebemos um exemplar de cortesia da editora, fizemos a leitura e para saber mais continue lendo a resenha.

“Por que se tem compreensão com quem está oprimindo e não com quem está sendo o oprimido? A menina negra é quem precisa entender que isso não é “brincadeira” ou quem faz a “brincadeira” que deve perceber que aquilo foi racismo? (página 31)”

A obra escrita por Djamila Ribeiro é uma coletânea de matérias sobre o feminismo — focando o negro — escritos enquanto ela trabalhava como colunista na CartaCapital durante 2014 até 2017. Inicialmente a filósofa apresenta um pouco a sua vida diante de algumas barreiras e conquistas que foi obrigada enfrentar devido ao racismo e machismo presente na sociedade, assim, complementando seus artigos, demonstrando como ele é real e massacrante.

Durante a leitura dessa coletânea autobiográfica e com pitadas de ciências sociais, o leitor irá conhecer matéria extremamente bem desenvolvidas pela escritora. Os assuntos encontrados são de total valor e muito rico em informações na atualidade, mesmo sendo escrito há alguns anos. Acreditamos que a leitura de Quem Tem Medo do Feminismo Negro? pode ser um tapa na cara de muitas pessoas, já que Djamila procurou abordar assuntos que muitos acreditam ser normal, como o uso do termo “mulata”, a utilização da “blackface” e algumas “brincadeiras”.

Os artigos foram escritos com bases em fatos reais e de acordo com os assuntos em altas dos anos que foram publicados, ou seja, contém muita coerência e base fundamental, assim, demonstrando como a autora não inventou nenhuma história. Além disso, ela demonstrou ser bastante estudiosa ao aprofundar em diversos momentos, sem contar que, referências são feitas ao longo da leitura, seja para agregar ao feminismo ou para demonstrar a intolerância da sociedade. Esse combo realista deixa a obra ainda mais cativante, curiosa e muito empolgante.

Apesar de a autora ter escrito contos curtos, eles requer muita atenção durante a leitura, principalmente por alguns deles conter assuntos complexos e devido ao contexto histórico mencionado pela escritora. Ou seja, o livro é empolgante, mas muitos precisarão de conter a euforia em alguns momentos, para aprender e absorver todo o estudo ali ensinado, pois são assuntos sérios e totalmente, especialmente para quem é ignorante ao tema.

“Enquanto àquela época mulheres brancas lutavam pelo direito ao voto e ao trabalho, mulheres negras lutavam para ser consideradas pessoas. (página 52)”

Muitos podem achar que o vocabulário de Djamila seja um pouco complexo devido todo o seu histórico acadêmico, porém, podemos afirmar para vocês que a filósofa soube remediar as palavras para uma fácil compreensão de seus leitores, principalmente para quem não tem contato com o meio da ciência social. Mesmo que alguns artigos seja um pouco profundo, os leitores conseguirão compreender o contexto do assunto sem muitas pesquisas ao dicionário.

O trabalho do Grupo Companhia das Letras mais uma vez acertou em cheio com a edição física da obra, ela é repleta de materiais de qualidade, a diagramação e todo trabalho do ramo foram desenvolvidos com total atenção, assim, deixando a leitura bem engrenada e agradável. Por outro lado, a capa é simples, cativante e totalmente direta, ou seja, é bem objetiva e repleta de corem referentes.

Quem Tem Medo do Feminismo Negro? é um livro muito necessário para uma sociedade que há muitos anos anda massacrando as minorias, mesmo falando sobre o feminismo negro ele também é uma opção de leitura incrível para as mulheres brancas e homens, principalmente para àqueles que tem um pouco de dificuldade e/ou intolerância sobre o assunto, acreditamos que com uma leitura sutil e totalmente realista a perspectiva de muitas pessoas irão mudar após conhecerem o trabalho de Djamila Ribeiro.

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